A preocupação básica de Neutra não era a forma abstrata enquanto tal, mas sim a modulação do Sol e da luz, bem como a articulação sensível da cortina de plantas entre o edifício e o contexto geral. Todos estes aspectos foram muito bem explorados na Kaufmann Desert House.
Edgar Kaufmann foi um magnata do comércio americano e tornou-se figura importante na história da arquitetura: em 1936, contratou Frank Lloyd Wright para projetar uma casa e ele criou a Casa da Cascata. Dez anos depois, contratou Richard Neutra para projetar um refúgio para os invernos rigorosos de Pittsburg. O resultado foi a Casa Kaufmann, ou Casa do Deserto, em Palm Springs, na Califórnia.
Como Taliesin West (o estúdio de verão de Wright, situado no centro do Arizona) não o impressionou muito, Kaufmann recorreu a Richard Neutra, de quem esperava um projeto brilhante, porém mais leve.
A Casa do Deserto é considerada por Neutra uma grande realização da arquitetura moderna, com o aspecto de um avião branco, como se tivesse acabado de aterrissar sobre um tapete verde, com uns poucos blocos de pedra cuidadosamente colocados ao redor.
Embora tanto a Casa da Cascata, como a Casa do Deserto, tenham em comum a alvenaria de pedra e a idéia de leveza, Neutra ressaltou sua disparidade frente à obra de Wright, afirmando que seus projetos “se faziam, ao invés de crescer” e inserindo a casa naquela áspera paisagem. Ela repousa sobre suas “fundações”, destacando o tempo, a luz branca da lua e o céu estrelado.
Localização:
470 West Vista Chino, Palm Springs, no deserto californiano dos Estados Unidos.
Conceito:
Esta casa de férias foi criada para enfatizar a paisagem desértica e suas duras condições climáticas.
Em 1947, Neutra lançou o livro “Wie baut Amerika”, que terminava com imagens de casas dos povos indígenas do Novo México e Arizona, elogiando suas habitações sobrepostas, com terraços no telhado e a capacidade dos tijolos de barro para suportar as intempéries. Apesar da originalidade da Casa do Deserto, esta evoca o espírito das casas dessas tribos indígenas, que ele admirava.
Richard Neutra construiu um edifício em que os planos horizontais das cobertas parecem estar flutuando sobre paredes de cristal transparente, dando ao conjunto um aspecto de leveza. Por outro lado, aproveitando a pequena inclinação do terreno, a casa está quase fundida com a paisagem que a rodeia, porque os volumes não se elevam muito acima do solo, estando quase toda constituída em uma única planta, salvo um pequeno terraço no pavimento superior, que é acessado por uma escada externa. Ao lado da casa, em um nível ligeiramente inferior, uma piscina reflete a sua estrutura.
Espaços:
A Casa Kaufmann exala espaço através dos planos horizontais que deslizam sobre o vidro. A única verticalidade pronunciada é a lareira, que vai do interior do pavimento térreo até metros acima do pavimento superior. Os volumes se dissolvem naturalmente.
Tal como em sua própria casa, Neutra contornou habilmente a proibição de edificar um segundo nível, removendo as paredes do terraço, exceto pela chaminé e lâminas verticais de alumínio (brises). De um ponto de vista estético, estes transmitem a sensação de um plano transparente e puramente funcional, agindo como um escudo contra o vento.
A casa se estende por dois eixos horizontais, ampliando, assim, a zona de residência. As grandes janelas de correr levam a espaços abertos e pátios adjacentes, tanto na sala de estar, como no quarto principal, do qual se tem uma ampla vista da piscina e cujas cortinas de cor bege atenuam o brilho branco da casa.
O Jardim se conecta à casa de uma forma sutil, quase fazendo parte da mesma, com suaves oscilações por toda a casa.
Apesar da predominância de ângulos retos, ainda assim emana delicadeza em suas formas.
Os ventos de Palm Springs são implacáveis e arrastam para o interior da casa tudo o que encontram.
A disposição dos ambientes é feita de forma a revelar uma ordem social específica, garantindo extrema privacidade tanto para os anfitriões, como para as crianças, os empregados e os convidados. A única convivência entre eles se dá nos terraços, corredores sombreados e pátios ao ar livre.
Enquanto no lado de trás, a casa é totalmente aberta para o jardim, a vista para a rua é fechada hermeticamente, com sua fachada de pedra de cantaria.
A casa em palavras:
A ala leste está ligada ao espaço do lado norte por uma galeria, onde há a suíte principal.
Na ala norte, se abre um corredor ao longo de um pátio ao ar livre que leva a outros dois quartos.
A sala de estar e a de jantar compartilham o mesmo espaço, de forma mais ou menos quadrada, situado no centro da casa.
A planta em forma de cruz garante que as quatro alas recebam tanto luz, como ventilação.
A ala sul se conecta à esfera pública e inclui uma marquise e dois longos corredores cobertos.
Estas passagens estão separadas por uma enorme parede de pedra para, de um lado, dar entrada aos serviços e, do outro, para a casa.
Na ala oeste há uma cozinha, uma área de serviço e um estar íntimo que é atingido por uma coberta “breezeway”, que permite uma boa circulação dos ventos.
Estrutura:
Para dar um maior realce à famosa qualidade de leveza do desenho, o sistema estrutural combina a madeira e o aço, de modo que a quantidade de apoios verticais necessários por toda a casa é reduzida. Isto é particularmente evidente na sala de estar, que possui paredes de vidro e aço, viradas para o sudeste (Fig.17). A estrutura da coberta e os pilares que se lançam a partir da sala em direção à piscina enlaçam a casa espacialmente. Este braço radial se tornou a marca registrada de Neutra, é a “perna de aranha”: o cordão umbilical que funde o espaço com a construção.
Materiais:
Neutra empregou como materiais básicos a pedra, o vidro e o aço, e tendeu a não se afastar da gama de cores que o deserto oferecia, para que a casa não se destoasse do ambiente natural. Além disso, a presença de pátios e varandas na construção liga o interior e o exterior, de forma que o deserto passa a fazer parte da construção.
Pedra:
A pedra natural de Utah, que Neutra utilizou nos exteriores e nos interiores, criam um efeito de claro-escuro que difere da homogeneidade em outros acabamentos. A pedra é esculpida com cuidado tanto na casa original, como no restauro realizado pelos novos proprietários, em meados da década de 90 e que durou cinco anos.
Alumínio:
O terraço é delimitado pelos brises verticais de alumínio, que oferecem proteção flexível contra tempestades de areia e calor intenso.
Vidro:
As paredes estão quase totalmente compostas por portas de vidro de correr. Apesar de parecer loucura ter vidro desprotegido na parte sul de uma casa no deserto, isto se deve ao fato de que a casa só seria utilizada um mês por ano, em janeiro.
Aço:
Utilizado como suporte para as janelas, que deslizam para o jardim contornando a casa e dando-lhe um aspecto clean.
Calhas:
Neutra as moderniza e as converte em uma “cascata”, que é uma homenagem à Casa da Cascata. No sul, as calhas destacam um detalhe bonito. Na sua extremidade oriental, a água da chuva flui de modo que o excedente caia sobre as pedras.
Restauração:
Depois de ter sido significativamente alterado pelos seus sucessivos proprietários, os últimos da residência decidiram devolvê-la ao seu estado original.
Os Harris fizeram uma cuidadosa restauração. Contrataram arquitetos que examinaram minuciosamente os projetos de Neutra, tiveram acesso às famosas fotografias feitas em 1947, por Julius Shulman, do interior da casa e encontraram outros documentos nos arquivos da Universidade de Colúmbia que ajudaram a resgatá-la como ícone arquitetônico.
A casa, que no início tinha 297m² de área, havia sido ampliada até alcançar quase 474m². Os arquitetos removeram as zonas acrescentadas baseados nas mesmas fotos e decidiram devolver ao jardim o aspecto desértico que tinha nos tempos de Neutra. Eles também acrescentaram um discreto sistema de aquecimento, ar condicionado e ventilação, assim como o novo pavilhão na piscina, batizado como Harris Poll House.
No fim da década de 90, finalmente, a casa Kaufmann recuperou seu esplendor original.
Edgar Kaufmann foi um magnata do comércio americano e tornou-se figura importante na história da arquitetura: em 1936, contratou Frank Lloyd Wright para projetar uma casa e ele criou a Casa da Cascata. Dez anos depois, contratou Richard Neutra para projetar um refúgio para os invernos rigorosos de Pittsburg. O resultado foi a Casa Kaufmann, ou Casa do Deserto, em Palm Springs, na Califórnia.
Como Taliesin West (o estúdio de verão de Wright, situado no centro do Arizona) não o impressionou muito, Kaufmann recorreu a Richard Neutra, de quem esperava um projeto brilhante, porém mais leve.
A Casa do Deserto é considerada por Neutra uma grande realização da arquitetura moderna, com o aspecto de um avião branco, como se tivesse acabado de aterrissar sobre um tapete verde, com uns poucos blocos de pedra cuidadosamente colocados ao redor.
Embora tanto a Casa da Cascata, como a Casa do Deserto, tenham em comum a alvenaria de pedra e a idéia de leveza, Neutra ressaltou sua disparidade frente à obra de Wright, afirmando que seus projetos “se faziam, ao invés de crescer” e inserindo a casa naquela áspera paisagem. Ela repousa sobre suas “fundações”, destacando o tempo, a luz branca da lua e o céu estrelado.
Localização:
470 West Vista Chino, Palm Springs, no deserto californiano dos Estados Unidos.
Conceito:
Esta casa de férias foi criada para enfatizar a paisagem desértica e suas duras condições climáticas.
Em 1947, Neutra lançou o livro “Wie baut Amerika”, que terminava com imagens de casas dos povos indígenas do Novo México e Arizona, elogiando suas habitações sobrepostas, com terraços no telhado e a capacidade dos tijolos de barro para suportar as intempéries. Apesar da originalidade da Casa do Deserto, esta evoca o espírito das casas dessas tribos indígenas, que ele admirava.
Richard Neutra construiu um edifício em que os planos horizontais das cobertas parecem estar flutuando sobre paredes de cristal transparente, dando ao conjunto um aspecto de leveza. Por outro lado, aproveitando a pequena inclinação do terreno, a casa está quase fundida com a paisagem que a rodeia, porque os volumes não se elevam muito acima do solo, estando quase toda constituída em uma única planta, salvo um pequeno terraço no pavimento superior, que é acessado por uma escada externa. Ao lado da casa, em um nível ligeiramente inferior, uma piscina reflete a sua estrutura.
Espaços:
A Casa Kaufmann exala espaço através dos planos horizontais que deslizam sobre o vidro. A única verticalidade pronunciada é a lareira, que vai do interior do pavimento térreo até metros acima do pavimento superior. Os volumes se dissolvem naturalmente.
Tal como em sua própria casa, Neutra contornou habilmente a proibição de edificar um segundo nível, removendo as paredes do terraço, exceto pela chaminé e lâminas verticais de alumínio (brises). De um ponto de vista estético, estes transmitem a sensação de um plano transparente e puramente funcional, agindo como um escudo contra o vento.
A casa se estende por dois eixos horizontais, ampliando, assim, a zona de residência. As grandes janelas de correr levam a espaços abertos e pátios adjacentes, tanto na sala de estar, como no quarto principal, do qual se tem uma ampla vista da piscina e cujas cortinas de cor bege atenuam o brilho branco da casa.
O Jardim se conecta à casa de uma forma sutil, quase fazendo parte da mesma, com suaves oscilações por toda a casa.
Apesar da predominância de ângulos retos, ainda assim emana delicadeza em suas formas.
Os ventos de Palm Springs são implacáveis e arrastam para o interior da casa tudo o que encontram.
A disposição dos ambientes é feita de forma a revelar uma ordem social específica, garantindo extrema privacidade tanto para os anfitriões, como para as crianças, os empregados e os convidados. A única convivência entre eles se dá nos terraços, corredores sombreados e pátios ao ar livre.
Enquanto no lado de trás, a casa é totalmente aberta para o jardim, a vista para a rua é fechada hermeticamente, com sua fachada de pedra de cantaria.
A casa em palavras:
A ala leste está ligada ao espaço do lado norte por uma galeria, onde há a suíte principal.
Na ala norte, se abre um corredor ao longo de um pátio ao ar livre que leva a outros dois quartos.
A sala de estar e a de jantar compartilham o mesmo espaço, de forma mais ou menos quadrada, situado no centro da casa.
A planta em forma de cruz garante que as quatro alas recebam tanto luz, como ventilação.
A ala sul se conecta à esfera pública e inclui uma marquise e dois longos corredores cobertos.
Estas passagens estão separadas por uma enorme parede de pedra para, de um lado, dar entrada aos serviços e, do outro, para a casa.
Na ala oeste há uma cozinha, uma área de serviço e um estar íntimo que é atingido por uma coberta “breezeway”, que permite uma boa circulação dos ventos.
Estrutura:
Para dar um maior realce à famosa qualidade de leveza do desenho, o sistema estrutural combina a madeira e o aço, de modo que a quantidade de apoios verticais necessários por toda a casa é reduzida. Isto é particularmente evidente na sala de estar, que possui paredes de vidro e aço, viradas para o sudeste (Fig.17). A estrutura da coberta e os pilares que se lançam a partir da sala em direção à piscina enlaçam a casa espacialmente. Este braço radial se tornou a marca registrada de Neutra, é a “perna de aranha”: o cordão umbilical que funde o espaço com a construção.
Materiais:
Neutra empregou como materiais básicos a pedra, o vidro e o aço, e tendeu a não se afastar da gama de cores que o deserto oferecia, para que a casa não se destoasse do ambiente natural. Além disso, a presença de pátios e varandas na construção liga o interior e o exterior, de forma que o deserto passa a fazer parte da construção.
Pedra:
A pedra natural de Utah, que Neutra utilizou nos exteriores e nos interiores, criam um efeito de claro-escuro que difere da homogeneidade em outros acabamentos. A pedra é esculpida com cuidado tanto na casa original, como no restauro realizado pelos novos proprietários, em meados da década de 90 e que durou cinco anos.
Alumínio:
O terraço é delimitado pelos brises verticais de alumínio, que oferecem proteção flexível contra tempestades de areia e calor intenso.
Vidro:
As paredes estão quase totalmente compostas por portas de vidro de correr. Apesar de parecer loucura ter vidro desprotegido na parte sul de uma casa no deserto, isto se deve ao fato de que a casa só seria utilizada um mês por ano, em janeiro.
Aço:
Utilizado como suporte para as janelas, que deslizam para o jardim contornando a casa e dando-lhe um aspecto clean.
Calhas:
Neutra as moderniza e as converte em uma “cascata”, que é uma homenagem à Casa da Cascata. No sul, as calhas destacam um detalhe bonito. Na sua extremidade oriental, a água da chuva flui de modo que o excedente caia sobre as pedras.
Restauração:
Depois de ter sido significativamente alterado pelos seus sucessivos proprietários, os últimos da residência decidiram devolvê-la ao seu estado original.
Os Harris fizeram uma cuidadosa restauração. Contrataram arquitetos que examinaram minuciosamente os projetos de Neutra, tiveram acesso às famosas fotografias feitas em 1947, por Julius Shulman, do interior da casa e encontraram outros documentos nos arquivos da Universidade de Colúmbia que ajudaram a resgatá-la como ícone arquitetônico.
A casa, que no início tinha 297m² de área, havia sido ampliada até alcançar quase 474m². Os arquitetos removeram as zonas acrescentadas baseados nas mesmas fotos e decidiram devolver ao jardim o aspecto desértico que tinha nos tempos de Neutra. Eles também acrescentaram um discreto sistema de aquecimento, ar condicionado e ventilação, assim como o novo pavilhão na piscina, batizado como Harris Poll House.
No fim da década de 90, finalmente, a casa Kaufmann recuperou seu esplendor original.